Em novo estudo, o economista Eugénio Rosa demonstra a realidade da perda do poder de compra dos enfermeiros, entre 2012 e 2025. Prevê um aumento na falta de enfermeiros no SNS.
“Fomos dos primeiros a alertar a opinião pública para o facto de Portugal estar a transformar-se cada vez mais num país de salários mínimos. E lançamos o alerta que isso teria consequências dramáticas para o crescimento económico, para o desenvolvimento do país, e para a saúde e condições de vida dos portugueses pois os mais qualificados e na idade produtiva abandonariam o país na procura de remunerações e condições de trabalho mais dignas”. E isso está a acontecer com os profissionais de saúde do SNS, em concreto com os enfermeiros.
As remunerações dos enfermeiros estão cada vez mais próximas do salário mínimo nacional e a crise do SNS por falta profissionais de saúde vai agravar-se, ainda mais, se nada mudar!
No livro “O direito à saúde”, em que somos também coautores, fazemos uma análise detalhada das remunerações indignas pagas aos profissionais de saúde pelos sucessivos governos o que tem contribuído para a sua “fuga” e falta no SNS.”
O quadro mostra que “o país de salários mínimos” está a atingir as profissões da saúde, no caso a dos enfermeiros, o que explica que a esperança média de vida saudável em Portugal tenha diminuído, entre 2013 e 2022, de 63 para 59 anos (Eurostat). Em sentido contrário, a idade da reforma aumenta todos os anos, incluindo para os enfermeiros apesar de trabalharem por turnos e fazerem milhões de horas extraordinárias, expondo-os a mais risco e penosidade.
A situação dos enfermeiros:
- Este quadro, demonstra o número de vezes que a remuneração dos enfermeiros é cada vez menor relativamente ao salário mínimo nacional, refletindo a perda de poder de compra. O número de vezes que as remunerações são superiores ao salário mínimo nacional diminuiu significativamente entre 2012 e 2025.
Em 2012 variava entre um máximo de 6 vezes superior ao salário mínimo nacional e um mínimo de 2,5 vezes a mais (em média 4,3 vezes superior), enquanto em 2025 já variava apenas entre um máximo 3,9 vezes superior ao salário mínimo nacional e um mínimo de 1,8 vezes (em média, 2,9 vezes superior, colunas a amarelo).
Como consequência, neste período, as remunerações da esmagadora maioria dos enfermeiros (cerca de 80%) perderam poder de compra, em média de 6,4% porque, embora não constando do quadro os enfermeiros especialistas tinham e têm remunerações quase idênticas às dos enfermeiros que constam do quadro (a vermelho na última coluna à direita).
O cálculo foi feito com base em remunerações ilíquidas (brutas) porque se fossem as líquidas veríamos que a perda seria muito maior.
Portugal caminha, também, no SNS para um país de salários mínimos, com consequências dramáticas para os portugueses. Disso são prova as dificuldades de acesso aos serviços do SNS e a redução significativa da esperança de vida saudável em Portugal.
A alteração da grelha salarial dos enfermeiros, em novembro de 2024, como sempre afirmámos é insuficiente. Com este estudo fica, mais uma vez demonstrado que, apesar do faseamento que está a ocorrer até 2027, temos que continuar a lutar para melhorar a nossa grelha salarial, corrigir imparidades quando nos comparamos com outros do setor da saúde e, garantir, medidas iguais que foram publicadas noutras carreiras profissionais.
Os custos do trabalho continuam a ser metade da média da União Europeia e o investimento continua a cair por cada trabalhador empregado. Este dado prova o círculo de atraso em que o pais está mergulhado que também afeta os trabalhadores enfermeiros.
Observem-se os dados do quadro seguinte (Eurostat – U.E.) sobre o custo para as empresas, trabalhador por hora trabalhada.

Como será possível atrair e reter trabalhadores qualificados e com elevadas competências necessários ao aumento da produtividade, ao crescimento económico e ao desenvolvimento do país QUANDO os custos por hora e por trabalhador são quase metade da média da União da Europeia e até diminuiu entre 2008 e 2024 (passaram de 56,5% para 54,3%) e são inferiores à metade da média dos países da Zona Euro, a que Portugal também pertence (só 48,8%).
Se juntarmos a esta política de remunerações que incentiva à emigração dos mais qualificados e com maiores competências e atrai trabalhadores de baixas qualificações para atividades pouco produtivas para pagar baixos salários, a queda do investimento por trabalhador (stock de capital por empregado) estão reunidas as condições para que o país não se consiga libertar do círculo vicioso de atraso.
Em 2011, o stock de capital por empregado, ou seja, o investimento por trabalhador em % da União Europeia (Fonte: AMECO) era de 63,4%. Em 2013 atingiu os 65,3% e a partir daí foi sempre a descer até atingir os 55,7% em 2023.
Perante estes dados é legítimo questionar como se pode aumentar a produtividade para aumentar o crescimento económico e a riqueza criada e, consequentemente, melhorar as condições de vida dos portugueses quando se investe cada vez menos por trabalhador.
E, como podem as empresas e partidos políticos insistir na diminuição do IRC, afirmando que as verbas não pagas seriam para reinvestir, nomeadamente no aumento dos salários. O gráfico demonstra como são falsos os argumentos de quem propõe estas medidas!