
Afinal a inflação média dos alimentos continua a aumentar.
O governo tem vindo a encetar uma campanha de manipulação da opinião pública com o objetivo de tentar convencer os portugueses que os preços estão a diminuir e a economia a crescer. Para isso distorcem-se dados e ocultam-se outros. Neste estudo, com dados oficiais (INE, Eurostat, relatórios de empresas) vamos dar um retrato verdadeiro da realidade.
A inflação total anual não baixa e a inflação anual da alimentação continua a aumentar
O gráfico 1, construído com os dos divulgados pelo INE em abril de 2023, mostra que a inflação média anual continua em resistir a baixar, e a inflação média anual dos “produtos alimentares e bebidas não alcoólicas” continua a aumentar, o efeito do IVA “ZERO” tem sido também, na prática, “ZERO”.
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Contrariamente à ideia que vários órgãos de comunicação social fizeram passar junto da opinião pública entre março de 2023 e abril de 2023, a inflação média anual praticamente manteve-se igual (8,7% em março de 2023 e 8,6% em abril de 2023), e a inflação anual dos “produtos alimentares e bebidas não alcoólicas” aumentou de 16% para 17,2%.
E mesmo a inflação total anual não traduz, com verdade, a realidade. E isto porque o INE considera que a despesa com a alimentação representa apenas 21% da despesa total mensal de cada família. Se esta percentagem de 21% aumentar para 40% (mais próxima daquela que a maioria das famílias gastam com a alimentação) a inflação atual anual de 8,6% subirá para um valor muito próximo dos 9,5%.
O Eurostat confirma a subida de preços em Portugal em abril de 2023 como revela o gráfico 2 mostrando mesmo uma aceleração entre janeiro de 2023 e abril de 2023 (+3,4%).
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Entre março.2021 e março.2023, o preço da gasolina e do gasóleo, sem incluir impostos, aumentou entre 42,6% e 47,7% e, incluindo impostos, subiu entre 7,9% e 12,7%
O quadro 1, com dados oficiais da Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG) revela que a subida dos preços dos combustíveis foi muito maior nos preços sem impostos, aqueles que revertem na totalidade para as empresas, do que nos preços dos combustíveis com impostos, embora, à primeira vista, pareça impossível.
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Quadro 1- PREÇOS DA GASOLINA E DO GASÓLEO SEM INCLUIR IMPOSTOS (reverte na totalidade para as empresas) E DE VENDA AO PÚBLICO (inclui impostos) EM MARÇO DE 2021 E EM MARÇO 2023 – DGEG

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Como revelam os dados da DGEG do quadro 1, entre março de 2021 e março de 2023, o preço de um litro de gasolina 95, sem incluir impostos, aumentou, 42,6% (em euros, +0,253€), e o preço de venda ao publico, com impostos, da gasolina 95, subiu 7,9% (em euros, +0,122€).
E entre março de 2021 e março de 2023, o preço de um litro de gasóleo, sem impostos, aumentou 47,7% (em euros, +0,283€), e o preço de litro do gasóleo, com impostos, subiu 12,7% (em euros, +0173€).
A parcela do aumento dos preços que reverteu para as empresas foi muito maior do que a que reverteu para o Estado.
Empresas e Estado foram beneficiados com o aumento dos preços dos combustíveis, mas o aumento para as empresas, tanto percentualmente como em euros, foi maior do que para o Estado. Uma conclusão contrária àquela que tem sido veiculada pelas empresas e seus defensores.
Entre 2º semestre de 2020 E 2º semestre de 2022 os preços de gás e eletricidade dispararam para as famílias.
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O gráfico 3 (dados do Eurostat), mostra a dimensão do aumento dos preços do gás e da eletricidade em Portugal

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Entre o 2º semestre de 2021 e o 2º semestre de 2022 os preços dispararam (+70,1% no gás, e +69,4% na eletricidade).
Os enormes lucros da EDP, GALP e REN em 2022 vão aumentar ainda mais em 2023.
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Quadro 2 – Lucros das empresas de energia em 2022, e no 1º trim.2022 e 1º Trimestre 2023

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Em 2022, estas 3 empresas do setor da “energia” obtiveram 2162 milhões € de lucros e, no 1º trimestre de 2023, os lucros obtidos por elas foram superiores aos que tiveram em igual período de 2022, em 204,3%, o que revela que no ano de 2023 ainda serão maiores dos que em 2022. E o governo e fiscalização nada fazem para pôr cobro a esta sobre-exploração dos portugueses.
O que é real:
- A inflação média anual não baixa (+8,6% em abril de 2023),
- a da alimentação contínua aumentar (+17,2%),
- entre o 2º semestre de 2021 e o 2º semestre de 2022 os preços do gás e da eletricidade subiram +69% para as famílias,
- os preços combustíveis aumentaram entre março de 2021 e março de 2023 mais de 42%,
Enquanto isto os enormes lucros da EDP, GALP e REN subiram ainda mais em 2023 (+204% no 1º trimestre 2023) o governo e a fiscalização não tomam medidas eficazes para acabar com esta sobre exploração.