21 Dezembro, 2017
Raríssimas
É raríssimo haver dinheiro para pagar aos enfermeiros o que lhes devem.

 

A Rita, de 6 anos, filha do Mário, enfermeiro, é uma miúda espertalhaça.

Questiona: ó pai, também este ano a mãe não vai jantar connosco na noite de Natal.

Mário: pois não, filha. A mãe está a fazer o turno da tarde no hospital, até às 00h30, e, como enfermeira, tem que cuidar dos doentes.

Rita: pois, devo ser uma filha rara, nunca tenho a mãe em casa.

Mário: não, filha. Raríssimo é os serviços terem mais enfermeiros para a mãe ter as suas folgas.

Rita: pois, mas na televisão, no intervalo dos bonecos, eu vi o vosso ministro dizer que havia mais dinheiro.

Mário: sim, filha, mas é raríssimo haver dinheiro para pagar aos enfermeiros o que lhes devem.

Rita: Estás como a televisão, só falam em raríssimas.

Mário: ó filha, a Raríssimas é uma instituição que cuida de certas pessoas, que deviam ser cuidadas pelo Estado, tem profissionais altamente competentes, mas parece ter também umas pessoas grandes mais pequeninas do que tu.

Rita: não percebo nada.

Mário: não te importes. Quando fores grande e se fores psicóloga, leres sobre isto e a política nacional de casos semanais, dirás: que grande esquizofrenia política.

Rita: continuo sem perceber. Mário: vá, o pai vai fazer o turno da noite, e, até a mãe chegar, vai para a caminha com a avó. Ela faz-te um desenho e ficas a perceber.

 

 

CORREIO DA SAÚDE
Artigo de José Carlos Martins, Presidente do SEP
Publicado no Correio da Manhã de 21-12-2017