É raríssimo haver dinheiro para pagar aos enfermeiros o que lhes devem.
A Rita, de 6 anos, filha do Mário, enfermeiro, é uma miúda espertalhaça.
Questiona: ó pai, também este ano a mãe não vai jantar connosco na noite de Natal.
Mário: pois não, filha. A mãe está a fazer o turno da tarde no hospital, até às 00h30, e, como enfermeira, tem que cuidar dos doentes.
Rita: pois, devo ser uma filha rara, nunca tenho a mãe em casa.
Mário: não, filha. Raríssimo é os serviços terem mais enfermeiros para a mãe ter as suas folgas.
Rita: pois, mas na televisão, no intervalo dos bonecos, eu vi o vosso ministro dizer que havia mais dinheiro.
Mário: sim, filha, mas é raríssimo haver dinheiro para pagar aos enfermeiros o que lhes devem.
Rita: Estás como a televisão, só falam em raríssimas.
Mário: ó filha, a Raríssimas é uma instituição que cuida de certas pessoas, que deviam ser cuidadas pelo Estado, tem profissionais altamente competentes, mas parece ter também umas pessoas grandes mais pequeninas do que tu.
Rita: não percebo nada.
Mário: não te importes. Quando fores grande e se fores psicóloga, leres sobre isto e a política nacional de casos semanais, dirás: que grande esquizofrenia política.
Rita: continuo sem perceber. Mário: vá, o pai vai fazer o turno da noite, e, até a mãe chegar, vai para a caminha com a avó. Ela faz-te um desenho e ficas a perceber.
CORREIO DA SAÚDE
Artigo de José Carlos Martins, Presidente do SEP
Publicado no Correio da Manhã de 21-12-2017