30 Setembro, 2019
Público: Os desafios do Sindicalismo | Debate com Guadalupe Simões
Neste mês de setembro, o jornal Público promoveu um debate sobre os mais recentes desafios do sindicalismo em Portugal. Guadalupe Simões, dirigente nacional do SEP, foi uma das personalidades convidadas a partilhar a sua opinião.


Mudanças no sindicalismo em Portugal

Neste debate, pretendeu-se discutir o que está a mudar nos sindicatos e os desafios futuros a enfrentar. Guadalupe Simões, sobre este assunto, refere que “as pessoas vão muito atrás das questões emocionais e quase fecham os ouvidos quando há um discurso mais racional.” Deste modo, a pergunta que coloca é a seguinte: “como chegamos às pessoas com uma mensagem que seja clara, racional, mas dita de uma forma emocional?”

Outro dos desafios em cima de mesa consiste na diminuição de sindicalizados. Guadalupe aponta que, entre outras razões, este facto deve-se ao “desacreditar das pessoas no sistema político” e “os trabalhadores verem os sindicatos como prestadores de serviço.”

Convencer os trabalhadores de que juntos, são mais fortes, “é um dos desafios com que todos os sindicatos, novos ou velhos, estão confrontados.”

 

Novas formas de luta: greves cirúrgicas e “fofinhas”

Na opinião de Guadalupe, “as greves fofinhas ao longo destes anos todos têm permitido aos enfermeiros sistematicamente ganharem coisas” como o regulamento do exercício profissional, a criação da Ordem dos Enfermeiros, a licenciatura em Enfermagem e as duas alterações à carreira em 1998 e 1999.

A dirigente do SEP afirma ainda que “em todos os processos negociais com essas greves ‘fracas’, e com os serviços mínimos que tínhamos, conseguimos atingir objetivos de melhoria das condições de trabalho dos enfermeiros. E o que se verifica, neste momento, é que houve um abalroamento total daquilo que são os serviços mínimos dos enfermeiros.”

Quando questionada sobre as consequências das greves cirúrgicas, Guadalupe traça um cenário preocupante: “estamos a dar pretextos para que com esta questão dos serviços impreteríveis e esta mensagem de ameaça que passa que se os enfermeiros fizerem greve, colocam em causa o direito das pessoas à saúde, como se fosse verdade, as pessoas compreenderem possíveis alterações à lei da greve. Isso temos de combater.”

Sobre o menor sucesso desta última greve dos enfermeiros, a dirigente nacional do SEP justifica-a pelo facto do “Governo ter sentido que podia encerrar o processo negocial, porque, contrariamente ao que acontecia anteriormente, a população não estava do lado dos enfermeiros.”

Perante este cenário, “medidas inovadoras têm de ter sempre em conta o atingir dos objetivos, continuar a ter a população do lado dos enfermeiros…”

 

Financiar greves: sim ou não?

É o crowdfunding uma alternativa legítima para financiar greves sindicais? Considerando os alertas dos advogados do SEP, Guadalupe crê que não. Em causa está a ilegalidade do processo pois os enfermeiros estarão a ser pagos, apesar de estarem em greve.

“E sobre esse dia de trabalho que está a ser pago não incidem os descontos que deveriam. Isto pode configurar alguma ilegalidade e nós nunca poderemos pôr em causa os enfermeiros.”

Por último, a dirigente do SEP recusou qualquer condicionamento dos partidos políticos à atividade do SEP: “Existem várias correntes dentro da CGTP e, quando se pretende tentar fazer esta junção, de que quem manda na CGTP ou no Sindicato dos Enfermeiros Portugueses é um partido, além de ser falso e ser um discurso populista, demonstra um desconhecimento brutal da história do sindicalismo em Portugal.”

 

Colega, vê o debate completo:

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