Este Dia Mundial da Saúde é também dia para reconhecer a imprescindibilidade do nosso Serviço Nacional de Saúde.
Assinalamos o Dia Mundial de Saúde com uma pandemia que nos coloca a todos à prova.
As notícias que nos chegam de todo o mundo permite-nos refletir sobre a crucial importância do nosso SNS e o que significa quando é apelidado de uma conquista civilizacional e um progresso social.
Esta pandemia colocou a nu as consequências do desinvestimento de que foi vítima ao longo de anos pelos sucessivos governos e, principalmente, durante o de PSD e CDS. Neste período atingimos o valor mais baixo de investimento – 4,4% do PIB.
Encerraram camas hospitalares e em várias extensões de centros de saúde não foram admitidos os profissionais de saúde necessários, nomeadamente enfermeiros – e são notórias as consequências da transferência de responsabilidade de cuidar de pessoas para os setores privado e social (IPSS e Misericórdias).
O aumento do investimento para cerca de 6% do PIB no último ano foi uma conquista, mas aquém das necessidades. Tanto mais que muito do valor que representa aquele aumento teve como destino o reequipamento das instituições.
Mas o SNS é também os seus profissionais
São hoje aqueles que estão na linha da frente no combate à pandemia. E, de entre estes, os enfermeiros.
A Organização Mundial de Saúde designou o ano de 2020 como o Ano dos Enfermeiros e dos Enfermeiros Especialistas.
Seguramente quando o fez, estava longe de saber que iria acontecer esta pandemia e, consequentemente, o alcance da sua decisão.
Ao longo dos últimos 20 anos, a OMS tem vindo a alertar para a escassez mundial de enfermeiros e de parteiras no mundo e para as consequências dessa escassez a nível mundial.
Estes alertas foram sempre caindo em “saco roto” porque os governos de todos os países, incluindo os portugueses, estiveram sempre mais preocupados nas formas como, gradualmente, iriam implementar medidas para degradar os serviços de saúde privilegiando o crescimento dos privados, dos seguros de saúde – permitindo dessa forma aumentar os lucros dos grandes grupos económicos a operarem no setor.
O ano de 2020 é o Ano dos Enfermeiros e os enfermeiros portugueses estão presentes no combate à pandemia, apesar das deficientes condições de trabalho, apesar de uma carreira profissional que lhes foi imposta e não os valorizar, apesar de 20 mil continuarem a ganhar 1201€, muitos com 10 e 20 anos de exercício de funções no SNS.
São também estes enfermeiros que constroem, todos os dias, o SNS e com os quais o Ministério da Saúde e o Governo estão a contar para que o DIA MUNDIAL DA SAÚDE seja todos os dias do ano.
Nas últimas semanas são comoventes as palmas dirigidas aos profissionais de saúde em todo o mundo – e serem apelidados de “heróis”.
São bem-vindas as palmas porque dão alento neste momento difícil e mais força para continuarem a sua missão. Agradecemos à comunidade que, desta forma, simples mas emocionada demonstram o quanto reconhecem o papel e o trabalho dos enfermeiros.
Que todos os enfermeiros portugueses, e de todo o mundo, recebam dos governos e dos empregadores privados mais do que palmas e mais do que o apelido de “heróis”.
E que o reforço do SNS que exigimos – e que no contexto actual é muito mais perceptível para todos – se alicerce cada vez mais na exigida valorização dos seus profissionais, no reconhecimento das suas competências gerais e especializadas, porque todos estão lá, diariamente, a dar o seu melhor, ainda que com prejuízo das suas famílias, dos seus filhos.
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Nota enviada aos media a 7 de abril 2020