Foi publicado recentemente o Relatório "Health at a Glance 2023", da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
Este relatório anual permite ter uma visão sobre a variação de vários indicadores comumente associados às condições de vida dos cidadãos.
O que aqui disponibilizamos é uma síntese, “Country Note”, que permite comparar alguns desses indicadores com a média da OCDE.
1 – Estado da Saúde – indicadores:
- A expetativa média de vida é de 81,5 anos, 1,2 anos acima da média da OCDE
- A mortalidade evitável é de 114 por 100,000 (abaixo da média da OCDE, que é de 158); com mortalidade tratável de 66 por 100,000 (abaixo da média da OCDE, que é de 79%)
- 13,3% da população avalia a sua saúde como má ou muito má (a média da OCDE é de 7,9%)
- A prevalência da diabetes é maior do que a média da OCDE.
Portugal tem um desempenho melhor do que a média da OCDE em 42% dos indicadores.
NOTAS: Não podemos deixar de registar a elevada percentagem da população portuguesa que avalia a sua saúde como má ou muito má. A esta situação não é alheia a dificuldade de acesso aos serviços de saúde e a instabilidade no funcionamento do Serviço Nacional de Saúde. A outra questão que importa realçar, é a prevalência da diabetes, que bem demonstra as razões pelas quais temos vindo a exigir mais enfermeiros nos Cuidados de Saúde Primários e nas escolas do ensino básico e secundário. A diabetes é hoje um problema de saúde pública, que conseguiremos combater na exata medida que priorizarmos a promoção da saúde e a aquisição de hábitos de vida saudável junto dos mais jovens.
2 – Fatores de risco – Indicadores:
- Fumar prevalece em 14.2% da população. A média da OCDE é de 16.0%
- O consumo de álcool no nosso país é mais alto do que a média da OCDE, com 10.4 litros per capita contra 8.6
- A prevalência da obesidade é de 16.9%, mais baixa do que a média de 18.4% da OCDE
- Houve 20.4 mortes devido à poluição do ar por 100.000 habitantes, sendo a média da OCDE 28.9.
Portugal tem um desempenho melhor do que a média da OCDE em 75% dos indicadores.
3 – Qualidade de cuidados – Indicadores:
- Doença Aguda: mortalidade nos 30 dias após um Acidente Vascular Cerebral é de 10.4% (a média da OCDE é de 7.8%) e 8% após um enfarte agudo do miocárdio (a média da OCDE é de 6.8%)
- Nos Cuidados de Saúde Primários houve 266 admissões disponíveis por 100.000 habitantes, menos do que a média da OCDE, com 463
- A Prescrição Segura: Portugal tem prescrito mais antibióticos do que a média da OCDE
- Nos Cuidados Preventivos: 80% das mulheres foram rastreadas para o cancro da mama, mais do que a média da OCDE, com 55%.
Portugal tem um desempenho melhor do que a média da OCDE em 55% dos indicadores.
NOTAS: Registamos a elevada taxa de mortalidade nos 30 dias após um AVC e/ou enfarte agudo do miocárdio, situações cuja tendência é de agravamento, se tivermos em conta as recentes dificuldades de acesso aos serviços “Via Verde AVC” e “Via Verde Coronária”. Apesar dos sucessivos apelos, é inadmissível que Portugal continue a “abusar” da prescrição de antibióticos.
4 – Acesso aos Cuidados – Indicadores:
- Toda a população está abrangida por um conjunto de serviços. 63% das pessoas estam satisfeitas com os cuidados de saúde (média da OCDE é 67%)
- Cobertura financeira: Portugal regista 63% das despesas cobertas por pagamentos obrigatórios, é menor do que a média da OCDE, que regista 76%
- 29% das despesas em saúde foram pagas diretamente pelos utilizadores (out-of-pocket spending), valor muito superior à média de 18% da OCDE
- 2.3% da população reportou falhas nos serviços de saúde (igualando a média de 2.3% da OCDE).
Portugal tem um desempenho melhor do que a média da OCDE em 24% dos indicadores.
NOTAS: Se dúvidas existissem, os dados sobre o acesso aos cuidados são bem demonstrativos da diminuição da acessibilidade por parte dos portugueses. É inadmissível o valor pago diretamente pelos portugueses para terem acesso à saúde quando, através dos impostos, já pagam para ter acesso a um serviço público de saúde constitucionalmente assumido como um direito.
5 – Recursos do sistema de Saúde – Indicadores:
- Portugal gasta $4162 (3801.32€) per capita em saúde, menos do que a média de $4986 da OCDE (4553.91€). Isto equivale a 10.6% do PIB, comparativamente à media de 9.2% na OCDE
- Existem 5.6 médicos por 1.000 habitantes (a média da OCDE 3.7)
- Existem 7.4 enfermeiros por 1000 habitantes (a média da OCDE é 9.2)
- Portugal tem 3.5 camas de hospital por 1.000 habitantes, menos do que a média da OCDE, que é de 4.3.
Portugal tem um desempenho melhor do que a média da OCDE em 30% dos indicadores.
NOTAS: O nosso país continua a registar um número de enfermeiros abaixo da média da OCDE. É inaceitável que os anos passam e este indicador continue longe de atingir, no mínimo, a média da OCDE. E isto acontece num país onde a taxa de envelhecimento e o número de pessoas maiores de 65 anos com comorbilidades se agrava. Estes cidadãos, no essencial, precisam de cuidados de enfermagem. Não olhar para estes dados é continuar a apostar na dificuldade de prestar cuidados em casa e, consequentemente, na institucionalização dos mais vulneráveis.
Ao contrário da propaganda, registamos a variação positiva de médicos comparativamente à média da OCDE.