21 Abril, 2023
Bernardino Soares: “O que há não é só uma grande capacidade técnica, o humanismo dos enfermeiros, mas também a noção de que é preciso apoiar as famílias”

PERFIL 

 

Bernardino Soares

Desde cedo envolvido na vida pública e política portuguesa, Bernardino Soares foi dirigente nacional da Juventude Comunista Portuguesa, deputado à Assembleia da República, Líder do Grupo Parlamentar do PCP de 2001 a 2013, e Presidente da Câmara Municipal de Loures de 2013 a 2021. Atualmente, tem a coordenação política do PCP para a pasta da saúde, jurista de formação. E tempo – para o lazer, para o estudo, para a família. Pai de um filho nascido prematuramente, conhece intimamente o funcionamento do SNS e, dessa experiência, trouxe relações de grande proximidade com enfermeiros. Alguns são agora “amigos de casa”, disse-nos, durante a conversa que tivemos com ele. 

 

Queríamos começar por perguntar-lhe se encontra algum momento de contacto mais pessoal e marcante com profissionais de saúde, nomeadamente em enfermeiros.

Sim, eu tive um filho prematuro que é meu filho e da mãe e também da MAC e da Estefânia. Tenho relações de proximidade e amizade com um conjunto muito grande de enfermeiros, das unidades de cuidados intensivos, em particular, e depois outros, noutras áreas, que eram da nossa família durante aqueles primeiros meses, continuaram a ser no seguimento e ainda se mantém. E ainda vou encontrando muitos deles em vários sítios. 

Portanto, tenho por eles uma gratidão imensa e a confirmação – não que eu não soubesse já – de que o trabalho que se faz nessas instituições é absolutamente fenomenal, de dedicação, de profissionalismo, de conhecimento. E, naquelas situações, o que há não é só uma grande capacidade técnica, o humanismo dos enfermeiros que vem da sua formação e que tem caracterizado a profissão ao longo destas últimas décadas, mas também a noção de que é preciso apoiar as famílias, os pais, que não percebem nada do que se está a passar. Isso é uma arte difícil de realizar.

 

Durante vários anos esteve a legislar questões relacionadas com a saúde. Isso tem impacto?

Tem. Quanto mais próximos estamos das realidades melhor sabemos o que elas precisam, o que sentem as pessoas que lá estão, a sua vivência. E é muito evidente que, ao conhecimento político, se quisermos chamar-lhe assim, dos assuntos ou dos problemas, uma proximidade pessoal, humana, com as pessoas, com os locais, é muito enriquecedor e faz a diferença. 

 

Esta experiência concreta faz com que tivesse alterado alguma coisa, se a soubesse antes?

Sim, se calhar. Uma coisa, que é evidente e ainda hoje se nota, é uma coisa concreta de várias unidades, que é o desfasamento entre quem faz as compras e quem as usa, porque frequentemente faltavam coisas essenciais e os pais tinham de ir tentar comprar ou ver se alguém tinha. 

Por exemplo, filtros para traqueostomia. É algo essencial para uma criança que tem uma traqueostomia, tem de ter um filtro ou uma tampa, o que seja. E houve uma altura em que, como o hospital foi centralizado no Centro Hospitalar Lisboa Central, enganaram-se a fazer as compras, compraram uma coisa completamente diferente. Lá tivemos de ir comprar a uma empresa qualquer, custou um dinheirão e entretanto, quando deixámos de usar, devolvemos o resto ao hospital. 

A consciência de que quem está no serviço, num serviço muito específico, é que sabe aquilo que é mais importante para os seus doentes e para o funcionamento do serviço. Quem está à distância, a olhar para uma tabela de Excel, muitas vezes falha. Sendo que todos falhamos, mas esse sistema é mau e isso ali é uma realidade muito vivida e muito presente. E aconteceu com este exemplo e depois conheci inúmeras situações, com outros miúdos e outros problemas.

 

Isso faz-me lembrar que enquanto deputado integrou a comissão da saúde, entre outras.

Sim, no meu partido não há esse luxo de estar só numa comissão. Estive noutras, na educação, negócios estrangeiros, orçamento. Foram uma série delas, conforme a necessidade, mas a saúde sempre esteve ali presente.

 

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