A pedido do PCP, dirigentes sindicais da Beira Alta reuniram com o deputado Duarte Alves na casa sindical da Guarda.
A reunião teve como objetivo a auscultação dos problemas com que os trabalhadores da saúde estão confrontados e, quais as respostas que o SNS deve garantir.
Entregámos ao deputado o seguinte documento:
“Desde a sua criação há mais de quarenta e dois anos que afirmamos que o Serviço Nacional de Saúde português (SNS) é um dos melhores serviços públicos de saúde do mundo!
Durante quarenta e poucos anos também apregoamos os bons resultados deste serviço público! Quase como cliché, são sempre divulgadas as taxas de vacinação à época, os valores da mortalidade infantil, etc.!
Hoje, os cuidados de saúde primários continuam a fazer aquilo que lhes compete fazer – muito mais, para além de vacinar! A importância desta atividade assistencial não é definida por decreto ou porque os nossos governantes a afirmam! A importância reside nos números. No caso concreto, relativamente ao período pandémico que atravessamos, a sua importância reside nas taxas de vacinação contra a COVID-19 (que os media referem ser invejadas por outros países da Europa).
Nunca um processo em massa foi tão agilizado, colocando o enfermeiro no centro da sua concretização. O ato de vacinar implica: conhecer as orientações normativas (que mudam constantemente); convocar as pessoas elegíveis no tempo útil; agendamento dos que respondem à chamada; assegurar condições logísticas indispensáveis ao ato vacinal; assegurar dinâmicas locais que visam a ordem e disciplina nos locais de vacinação, vigilância de fenómenos ou reações adversas associados, durante e após o ato vacinal, registo do ato vacinal por pessoa e reporte estatístico dos dados diários.
Como se não bastasse, outras tarefas relacionadas estão também à “guarda” dos enfermeiros dos cuidados de saúde primários. Nomeadamente a manutenção operacional das ADC-C (áreas dedicadas à COVID19 na comunidade), realização de testes PCR nos Centros de Saúde, acompanhamento de doentes ligeiros em isolamento na plataforma TRACE-COVID, já para não falar no apoio às instituições de solidariedade social com surtos ativos, quando as brigadas de intervenção rápida não existiam ou se existiam não apareceram (no caso do concelho do Sabugal, distrito da Guarda).
Mas como alguém diria… Só isto, seria “poucochinho”, se não fosse a preocupação de garantir a atividade assistencial normal.
É certo que houve uma diminuição da procura de cuidados médicos. Segundo o portal da transparência (ver aqui) a realização de consultas médicas presenciais no período pandémico de março de 2020 a fevereiro de 2021 teve uma quebra de 46% face ao período homólogo anterior de pré-pandemia (março de 2019 a fevereiro de 2020).
A mesma fonte(ver aqui) refere que nos mesmos períodos os contactos presenciais de enfermagem, embora com perdas, não foram tão acentuadas, ficando na cifra de menos 20% de contactos presenciais, indicativo que os enfermeiros privilegiaram os contactos presenciais.
Contudo, se é certo dizer que em muitas unidades funcionais, os enfermeiros garantiram as respostas à pandemia em simultâneo com a restante atividade assistencial, não é menos verdade que noutras unidades funcionais isso não aconteceu. Muito devido ao absentismo dos profissionais relacionado com a infeção por COVID-19, dos próprios ou dos filhos e conjugue.
A exaustão instala-se e as consequências disso acontecerão, não só na vida pessoal de cada profissional, mas também na vida pessoal.
Um impacto na motivação e performance laboral.
Ainda assim, queremos acreditar, por tudo isto, que contribuímos para a resiliência do sistema em nome do bem-estar de todos. Também queremos acreditar que haverá alguém que nos ouça e sobretudo entenda o verdadeiro “nicho” que os cuidados de saúde primários ocupam na rede de oferta de cuidados de saúde que o nosso SNS oferece e, mais concretamente, compreenda a justiça de reivindicações como:
- A admissão de enfermeiros em número adequado às necessidades de cuidados respeitando as dotações seguras, mais ainda no distrito da Guarda com elevado níveis de envelhecimento populacional e elevados graus de dependência;
. - A efetivação de todos os enfermeiros com contratos precários na ULS da GUARDA que atualmente, além das dezenas de enfermeiros contratados ao abrigo do COVID há cerca de duas dezenas de contratos de substituição, todos necessários;
. - A contabilização de todo o tempo de serviço a todos os enfermeiros independentemente da natureza do vínculo laboral desde 2004 para efeitos de progressão na carreira;
. - Compensação por via do risco e penosidade, nomeadamente para efeitos de aposentação;
. - Adequação de um sistema de avaliação justo e harmonizado à natureza do trabalho que os enfermeiros efetuam, uma vez que o atual (SIADAP) para além de inadaptado, cria arbitrariedades dando lugar a injustiças e discriminações aquando do gozo dos direitos, nomeadamente da Parentalidade.
Volvidos quarenta e dois anos, cá estamos. E continuamos a dizer e a demonstrar que o nosso SNS é o melhor! Quiçá o melhor do mundo!
Chegou a hora de atualizar o discurso, demonstrando e não apenas afirmando, que o nosso SNS também é o melhor a reconhecer os seus profissionais, a distingui-los e a considerá-los os melhores, proporcionando-lhes melhores condições para cuidarem dos seus doentes e, sobretudo, chegou a hora de reconhecer que as justas reivindicações, muitas delas, são efetivamente dívidas!
Bons serviços não são pagos com dívidas!”