Após 2 anos de pandemia os decisores políticos parecem ter aprendido muito pouco. Não há resiliência que aguente tanta “desorientação”.
Cientistas e profissionais de saúde, também os enfermeiros, desde cedo alertaram para o vórtice que poderia significar o aumento do número de casos COVID (com o levantamento das várias medidas de proteção), a chegada do outono/inverno (incidência da gripe sazonal) e a absoluta necessidade de recuperar a atividade assistencial programada.
Apesar do referido constatámos a desativação de centros de vacinação e o recuo na contratação de enfermeiros.
No Algarve, a decisão de encerrar alguns Centros de Vacinação remeteu os utentes para espaços confinados e/ou sem condições de atendimento, como foi o caso de S. Brás, Faro, Tavira (numa tenda) e Portimão, em que os utentes esperam de pé ao sol à chuva e sem distância de segurança.
Não obstante, a “loucura” de impor metas/dia de pessoas vacinadas e sem que haja reforço de pessoal, determina o prolongamento do dia de trabalho, por vezes com alterações de horário no dia anterior ou no próprio dia. Apenas 2 enfermeiros chegam a vacinar 300 pessoas, sem saberem a que horas vão finalizar.
Os enfermeiros têm vindo a fazer um esforço acrescido para responder a todas as necessidades dos utentes e famílias (não só Covid) à custa de incontáveis horas (de vida) extraordinárias e há quase dois anos que muitos chegam a trabalhar 60 horas semanais e 2 semanas sem folgar.
Paralelamente, continuamos a assistir à emanação de orientações contraditórias “quase diárias” relativamente à vacinação (início, população prioritária, etc.) conjunta ou não das vacinas da gripe e do COVID impedindo que localmente e com o conhecimento do “terreno” os profissionais organizem a vacinação aos seus utentes. A título de exemplo: Havendo vacinas da gripe disponíveis nos Centros de Saúde, mas estando os enfermeiros impedidos de vacinar alguns grupos etários, chega a ser ridículo os utentes terem que comprar a mesma vacina na farmácia para logo ser administrada no Centro de Saúde!
Em resposta a este esforço, as instituições vêm exigir mais, com menos recursos e ainda iludindo os enfermeiros quanto à sua retribuição.
Em contraponto, instituições há que continuam a poupar! É o caso da ARS do Algarve que só depois do trabalho feito (vacinação nos meses entre junho e setembro) ao invés de pagar as horas efetuadas, em acumulação, ao abrigo de uma legislação recente, apresentou propostas de contratos de mobilidade com valores inferiores, a enfermeiros do CHUA que se disponibilizaram para vacinar.
Resultado? Enfermeiros mais uma vez enganados e ainda por cima “roubaram”-lhes parte do subsídio de férias, que anda agora num jogo do empurra entre CHUA e ARS sobre quem paga.
Neste quadro, ainda vem a Ministra da Saúde pôr em causa a resiliência dos profissionais?
Exige-se o mínimo de respeito, consideração e valorização. Exige-se ainda que seja devolvida autonomia às instituições para contratarem enfermeiros rapidamente e com melhores condições, caso contrário quem estará cá para dar resposta às necessidades da população?
Nota enviada aos media a 25 de novembro de 2021