21 Abril, 2025
O país que se construiu a partir de 1974
Se o 25 de Abril é um dia de celebração da liberdade, da democracia e da conquista de direitos, também deve ser um momento para recordar o passado e exigir um futuro melhor.

O 25 de Abril de 1974 é a data recente mais marcante da História de Portugal por representar o fim de uma ditadura de 48 anos e o início da democracia e da liberdade.

Na madrugada de 25 de Abril, as Forças Armadas, lideradas pelo Movimento das Forças Armadas (MFA), iniciaram um golpe militar que rapidamente ganhou o apoio da população.

As profundas mudanças políticas, sociais e económicas que os portugueses experienciaram, as eleições livres, a garantia de direitos fundamentais, a liberdade de expressão, de reunião e de imprensa e a libertação dos presos políticos só foram possíveis graças ao 25 de Abril de 1974.

Agora, passados 51 anos, continua a ser importante realçar a importância da Revolução dos Cravos.

O país que se construiu a partir de 1974 garantiu o acesso à saúde, à educação, ao salário mínimo e a diferentes outras prestações sociais que permitiram quebrar ciclos de pobreza e melhorar indicadores, como por exemplo, de mortalidade materno-infantil e de alfabetização.

Se hoje em Portugal podemos congratularmo-nos por termos a “geração mais qualificada” de sempre, isso só se deve à universalização do acesso à educação.

Antes, só a elite almejava ter acesso ao ensino universitário. Hoje, pelo contrário, é fácil encontrar famílias em que os pais e os filhos têm uma qualificação superior. Isto não era assim até meados dos anos 90 do século passado. 

Antes, a esperança média de vida dos portugueses não ia muito além dos cinquenta anos.

Os programas de vacinação, o planeamento familiar, os rastreios, a proliferação de hospitais e centros de saúde públicos e a alocação de profissionais de saúde de norte a sul, do litoral ao interior do país, garantiram o acesso a cuidados de saúde gerais, universais e gratuitos aos portugueses, diminuindo o precoce aparecimento de sinais e sintomas de doença e aumentando a esperança média de vida.

As melhorias dos salários permitiram que os cidadãos melhorassem e diversificassem a sua alimentação que, associados ao abastecimento de água canalizada e ao incremento do saneamento básico, foram fatores determinantes para a melhoria das condições de vida dos portugueses.

Importa referir que a existência de água canalizada e saneamento básico só foi possível porque o poder se aproximou dos cidadãos. As eleições autárquicas, para as Juntas de Freguesia e para as Câmaras Municipais, deram o poder aos munícipes de exigir melhorias nas suas aldeias, vilas e cidades.

Mais: antes, os portugueses não tinham qualquer proteção na velhice, razão pela qual “morriam a trabalhar”. Hoje, estão garantidas prestações sociais que permitem, ainda que de forma insuficiente, aos que nunca fizeram descontos (antes do 25 de Abril não haviam descontos para a Segurança Social), terem uma prestação pecuniária. Mas não só, a solidariedade intergeracional permite o pagamento dos abonos de família, as baixas por doença, os subsídios de desemprego, os abonos por invalidez e deficiência, etc.

Mas o 25 de Abril também acabou com um dos maiores dramas que assolava a sociedade portuguesa: a Guerra Colonial.

Para todos nós que nascemos depois de Abril é difícil perceber a preocupação, a ansiedade, o medo dos pais que tinham filhos homens. Ir para a guerra era uma imposição e o futuro expectável dos jovens quando atingissem os 18 anos.

Poucos tinham a “sorte” de não ir! Não iam os filhos da elite que não podiam correr o risco de, tal e qual a monarquia, não terem sucessores para dar continuidade aos seus negócios.

Por isso, o 25 de Abril foi um alívio para os filhos dos pobres.

Esta questão – a guerra – assume, por estes dias, nova relevância.

Nos últimos 50 anos, era um dado adquirido viver em tempos de paz ainda que as guerras continuassem a existir em várias latitudes do globo. Não na Europa!

O discurso bélico que nos entra todos os dias pela casa adentro deve merecer o nosso mais veemente repúdio. O nosso futuro não pode ser o voltar a ter medo que os nossos filhos sejam recrutados para teatros de guerra. Gastar o nosso dinheiro em armas, quando deveria ser canalizado para continuar a incrementar o nosso nível de vida, é inaceitável!

Temos que combater o discurso do medo e levantar a nossa voz para dizer que não aceitamos que uns quantos pretendam ficar mais ricos à custa da vida e do bem-estar das populações.

Os então jovens que foram para a guerra colonial, continuam passados 50, 60 anos, a apresentar traumas psíquicos e, muitos deles, problemas físicos.

E, como em todas as guerras, o sofrimento infligido tem duas faces: quem ataca e quem se defende.

No caso, as populações dos países que faziam parte do império português: Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo-Verde e São Tomé e Príncipe.

E, neste contexto, as mulheres. As mulheres, as crianças e os mais velhos, no fundo os mais vulneráveis, são os que mais sofrem em todos os teatros de guerra. As mulheres e as meninas, em particular, que foram e continuam a ser utilizadas como “armas de guerra”, danos colaterais, vítimas silenciadas. O número de violações deveria ser um número conhecido e ser motivo de vergonha coletiva.

Não queremos voltar para trás!

Queremos a solidariedade geracional que garante que todos continuemos a ter acesso a uma prestação pecuniária quando atingirmos a idade da reforma. E, firmemente, temos de combater qualquer proposta leviana de privatizar o nosso dinheiro, que é a Segurança Social.

Queremos manter a Escola Pública como alavanca social, continuando a garantir que todos quantos quiserem podem aceder a uma formação académica.

Queremos reforçar o SNS público porque é o único que garante o acesso geral, universal e gratuito aos cuidados de saúde e que nenhum cidadão será colocado à porta de um hospital por não poder pagar.

Queremos continuar a viver em PAZ!

Se o 25 de Abril é um dia de celebração da liberdade, da democracia e da conquista de direitos, também deve ser um momento para recordar o passado e exigir um futuro melhor.

Se o 25 de Abril de 1974 é o exemplo de como a vontade do povo superou a opressão, o 25 de Abril de 2025 é o momento de reafirmar que não aceitamos qualquer outro tipo de opressão, nomeadamente a económica.  

Continuemos a construir um futuro justo e livre.