22 Abril, 2020
A carência de enfermeiros no SNS é uma denúncia recorrente e uma, infeliz, característica. Continuamos a analisar a falta de enfermeiros e a exigência de contratação.
Neste caso, a comparações entre instituições que têm a mesma forma de organização, as Unidades Locais de Saúde composta por, pelo menos 1 hospital e vários Centros de Saúde.
Da análise:
- O número impressionantemente baixo de enfermeiros na ULS do Litoral Alentejano, 390, se considerarmos a dispersão geográfica e populacional, as fracas rodovias, o envelhecimento da população, a incidência de uma taxa alta de suicídio reveladora de doença mental, o turismo, os imigrantes que trabalham na agricultura, etc., é legítimo perguntar: como conseguem os enfermeiros dar todas as respostas que já hoje são necessárias mais aquelas que o serão, no contexto da actual pandemia.
- ULS do Baixo Alentejo apesar do dobro do número de enfermeiros, na sua maioria estão alocados ao hospital de Beja. As características regionais são semelhantes às anteriores: dispersão geográfica e populacional, população envelhecida, população rural.
- A ULS do Norte Alentejano com um número idêntico de enfermeiros, tem 2 hospitais. As redes viárias na sua maioria estão em piores condições e são muito mais sinuosas. A dispersão populacional e o envelhecimento da população, são características comuns às anteriores.
- A ULS Castelo Branco segue a realidade das anteriores ainda que o número de enfermeiros para fazer face aos mesmos problemas seja substancialmente menor que as duas ultimas.
- A ULS da Guarda tem o melhor registo de todas as situadas no interior do país. Com 1 hospital e 13 centros de saúde tem em março, 730 enfermeiros.
- Mais a norte, a ULS do Nordeste é composta por 3 hospitais e 12 CS. Igualmente com uma população muito envelhecida, grande dispersão geográfica e populacional e, maus acessos rodoviários, tem apenas 680 enfermeiros, muitos alocados aos hospitais.
- Um dado comum a todas estas Unidades Locais de Saúde é o diminuto número de Unidades de Saúde Familiar. A ULS do Norte Alentejano tem 5 nas cidades de Elvas, Campo Maior e Portalegre. Na ULS de Castelo Branco existe 1 USF com 5 enfermeiros para 10 mil pessoas. Pondo de parte a orientação da OMS de 1 enfermeiro/1200 pessoas e mesmo na consideração de 1 enfermeiro/1500 pessoas isso daria um total de 7500 utentes para esta equipa de enfermagem. Nesta USF cada enfermeiro é responsável por 2000 utentes.
- Por fim as ULS junto ao litoral, a de Matosinhos e a do Alto Minho. A primeira tem 1 hospital e 4 Centros de Saúde, existindo em todos, Unidades de Saúde Familiares num total de 11. A segunda tem 2 hospitais e 12 centros de saúde que contam na sua organização com 15 USF.
A outra evidência que sobressai desta tabela é o número das admissões nos meses de fevereiro e março já com a pandemia declarada. Inadmissível, já que as ULS têm um estatuto empresarial e podem contratar mais rapidamente.
Sobre a contratação de enfermeiros, o SEP mantém as exigências e acrescenta uma para garantir que as instituições de saúde do SNS, e principalmente os centros de saúde terão condições para dar as respostas que serão necessárias:
- Que todos os enfermeiros contratados em regime de substituição passem para um contrato por tempo indeterminado;
- Que a todos os enfermeiros contratados ou a contratar no âmbito da pandemia do Covid-19 seja feito um contrato por tempo indeterminado ao invés da solução de contratos por 4 meses, avançada pelo governo;
- Que todos os jovens enfermeiros que terminem, durante o ano em curso, a sua licenciatura sejam imediatamente contratados, nomeadamente, nas regiões de implementação das faculdades de enfermagem.
Nota enviada aos media a 22 de abril 2020