10 Janeiro, 2018
Caos nas urgências hospitalares resulta da inoperância de sucessivos governos
Nos últimos dias têm vindo a público várias denúncias da situação caótica que se vive nos hospitais portugueses decorrente do período viral de gripe.
O SEP tem estado na linha da frente, ano após ano, na denúncia da degradação das condições de trabalho dos enfermeiros que, nestes períodos, se agravam de forma substancial.

 

Além das várias denúncias das condições de trabalho dos enfermeiros, temos feito muito mais.

Temos apresentado e discutido propostas de solução fundamentadas na evidência. Importa, por isso, reafirmar e lembrar as propostas de resolução definitiva que estão em causa.

Premissas

  • Os hospitais têm como missão primordial dar resposta aos doentes em situação de doença aguda.
  • A maioria dos doentes internados nos nossos hospitais precisa de cuidados de manutenção.
  • Esses cuidados podem ser prestados na rede de cuidados continuados e paliativos.
  • Apesar de na década de 90 já haver evidência do envelhecimento tendencial da população portuguesa, a aposta nos cuidados continuados só aconteceu no final da década passada.
  • O aumento da população idosa, o aumento da esperança de vida e a tendência para o aumento da prevalência de doenças crónicas obriga a que outras soluções possam ser encontradas, entre elas, o reforço do acompanhamento dos doentes em casa.

 

Soluções

  • Para isso, importa reforçar o número de profissionais e meios técnicos nas diferentes unidades funcionais dos agrupamentos dos centros de saúde, garantindo maior interdisciplinaridade e assegurando que os centros de saúde primários conseguem dar todas as respostas necessárias, exceptuando as de doença aguda.
  • Repensar novas formas de organização dessas unidades, designadamente no que diz respeito à autonomia dos profissionais poderem desenvolver o seu horário de trabalho de acordo com as necessidades de saúde de cada um dos doentes e utentes e suas famílias.
  • Apostar, ainda, na promoção da saúde e na prevenção da doente – uma missão também dos cuidados de saúde primários. É imprescindível alterar os indicadores de literacia em saúde da população portuguesa sendo os mais jovens o alvo principal desta medida. Só assim conseguiremos obter melhores indicadores de saúde a médio e longo prazo.
  • As alterações climatéricas e o impacto que estas já têm no nosso país deve ser uma preocupação de todas as entidades. Não basta a ratificação dos objetivos traçados pela Organização Mundial de Saúde neste campo, é preciso ser atuante e, inclusivamente, formar profissionais de saúde e outros parceiros.

 

Enquanto o destino das medidas governativas continuarem a ser num modelo centrado nos hospitais, seja por causa da gripe ou por causa do calor, continuaremos a assistir a serviços de urgência em situação caótica, com doentes internados em macas e em condições perfeitamente desumanas.

Os enfermeiros, porque acompanham os doentes 24 sobre 24 horas, experienciam esta realidade como sendo sua – tendencialmente estarão cada vez mais exaustos, desmotivados e revoltados.

 

Nota envida à comunicação social a 10 de janeiro de 2018.