1 Junho, 2017
ICN 2017: Condições de trabalho na América Latina e no Caribe
“Os enfermeiros não trabalham e estudam para serem infelizes” afirma A. Escaja Fernandez, Presidente da Federação Pan-Americana de Enfermeiros, no âmbito da edição de 2017 do ICN (International Congress of Nurses). Não poderíamos estar mais de acordo.

 

Partilhamos nesta página os principais dados e as principais conclusões desta intervenção.

A Federação Pan-Americana de Enfermeiros é composta por 20 países da América Latina e do Caribe. Muitos dos enfermeiros destes vários países não têm a totalidade das habilitações literárias, mesmo entre os enfermeiros com pós-graduação. A obtenção de mais qualificações e mais conhecimento deveria ser traduzido em mais poder para os enfermeiros.

SEP | Enfermeiros da América Latina no ICN 2017

 

Estabilidade laboral

Cuba é o único país que apresenta uma total estabilidade de emprego – 100%, Argentina 80%, Paraguai 60% e no Chile é muito reduzida.

Relativamente às horas de trabalho em Cuba é de 36 horas por semana, na Argentina e, após um longo processo de luta, é agora de 30 horas e no Chile é de 48 horas. Conclui-se que a estabilidade de emprego está relacionada com a conquista de melhores condições laborais.

 

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Os vencimentos dos enfermeiros nos 20 países variam entre os 300 dólares e os 4.000 dólares (para situações pontuais).

A situação que se vive na América Latina é conhecida de muitos. A corrupção na classe política e nas empresas é um problema com consequências gravíssimas na economia dos diferentes países. O aumento acelerado da inflação em vários países e a consequente desvalorização da moeda pressiona salários, condições de trabalho e condições de vida.

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Variáveis profissionais

Cuba é o único país onde não existe duplo emprego. Nos restantes países da região, este dado varia entre os 30% e os 60% – o que significa que existem enfermeiros a fazerem mais de 80 horas semanais.

Consequentemente, o absentismo é altíssimo. Enquanto que em Cuba é de 1%, nos outros países varia entre os 7% e os 30%. Não há uma única empresa que consiga sobreviver com estas taxas de absentismo – o que significa que também é uma enorme pressão sobre o setor público.

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Outros fatores

Precariedade: esta problemática não existe em Cuba; os restantes países varia até aos 40%.

Insatisfação no local de trabalho: em Cuba é reduzida, nos restantes varia entre os 20 e os 40%.

Violência: à exceção de Cuba, nos restantes países foram relatados muitos episódios de violência. De forma decrescente: entre os pares (entre os enfermeiros), com as chefias de enfermagem, médicos, doentes e famílias.

 

Tal como em muitos outros países, a enfermagem tem pouco poder e não está representada a nível político, ao nível do ministério, municipal e provincial. A ausência de sindicatos profissionais e a existência de sindicatos alheios à disciplina (na América Latina existem sindicatos que têm escolas de enfermagem) são dois dos problemas apontados.

Fernandez termina a sua intervenção afirmando que os enfermeiros têm que sentir honra em estarem sindicalizados.

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