31 Maio, 2017
Segundo os últimos dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o serviço nacional de saúde espanhol ocupa a 8ª posição. Contudo, as condições de trabalho dos enfermeiros espanhóis, à semelhança do que acontece em Portugal, estão longe de serem as melhores.

 

Partilhamos alguns dos dados  que foram apresentados por Rafael Recena, secretário geral do SATSE (Sindicato de Enfermagem de Espanha).

  • O ratio é de 5,2 enfermeiros/1000 habitantes.
  • Não existe um efetivo planeamento das necessidades de recursos humanos de enfermagem.
  • Existem poucos enfermeiros especialistas, à exceção dos especialistas de saúde materno-obstétrica.
  • É deficitário o número de enfermeiros por turno e assiste-se um grande envelhecimento das equipas. A impossibilidade dos enfermeiros poderem aposentar-se antecipadamente, no setor público, é apontado como um problema central.

Os ambientes de trabalho não são seguros. O trabalho por turnos e noturno é mal compensado em dinheiro e tempo. A jornada de trabalho é pouco flexível e a continuidade assistencial não tem, em termos gerais, reconhecimento. Os dias livres são praticamente inexistentes e a formação e a investigação são sempre feitas nos tempos livre dos enfermeiros e às suas próprias custas.

A estrutura salarial dos enfermeiros não está de acordo com a legislação (Grupo A) e existem diferenças importantes entre os serviços de saúde privados e públicos.

O SATSE propõe um plano de melhoria progressiva das condições de trabalho dos enfermeiros. Não é possível manter a atual situação em que as condições de trabalho – salariais, tempo de trabalho, serviço, entro outros parâmetros – são iguais desde que um enfermeiro começa a trabalhar até que termina a sua vida profissional.

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Apresentação de Rafael Recena: condições de trabalho dos enfermeiros em Espanha

 

A saúde laboral dos enfermeiros é outra preocupação. O trabalho por turnos e a exposição a agentes biológicos e medicamentos perigosos afetam a saúde dos enfermeiros.

Neste âmbito, Rafael afirma que um dos problemas em Espanha é que não existem estatísticas específicas e compatíveis com o sector da saúde por ausência de investigação. Para minimizar este problema, o STASE propõe o cumprimento da legislação de higiene, saúde e segurança no trabalho.

Sobre a participação dos enfermeiros na gestão, assume a grave ausência de acesso à gestão/direção em várias instituições e as direcções de enfermagem que existem são desvalorizadas e eliminadas. A supervisão por enfermeiros é apenas uma micro gestão. Os enfermeiros estão afastados da definição de políticas de saúde e a enfermagem continua a não estar representada por enfermeiros em cargos políticos.

A consequência desta realidade é a escassa influência da enfermagem nas decisões; torna-se crucial delinear uma estratégia nacional e transversal que coloque os enfermeiros “à mesa das decisões”.

Rafael conclui afirmando que em Espanha as condições de trabalho não favorecem a enfermagem. Os enfermeiros influenciam pouco as decisões a todos os níveis, falta um posicionamento real e cooperativista da enfermagem e apela para que os enfermeiros saiam da sua zona de conforto.

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Apresentação de Rafael Recena: principais conclusões