3 Maio, 2018
Os enfermeiros das Unidades do Agrupamento de Centros de Saúde Dão Lafões enviam abaixo-assinado ao Ministro da Saúde a exigir melhores condições de trabalho.

 

A Direção Regional da Beira Alta deste sindicato recebeu um abaixo-assinado dirigido ao Ministro da Saúde, subscrito por uma expressiva parte dos enfermeiros do ACES Dão Lafões.

Os enfermeiros deste Agrupamento reivindicam melhores condições na prestação de cuidados de saúde nas unidades de saúde do Agrupamento de Centros de Saúde Dão Lafões. Neste abaixo-assinado exigem o reforço de recursos humanos, a aquisição de viaturas para a prestação de cuidados no domicílio (já prometidas em 2016 pelo Ministro da Saúde) e a manutenção de infraestruturas e equipamentos destas unidades.

Sublinhamos que este documento exprime a preocupação e o descontentamento crescente dos enfermeiros pelo avolumar paulatino de problemas, sem vislumbre de resolução.

 

Estes problemas têm vindo a ser denunciados publicamente ao longo dos últimos meses de onde se enfatiza:

 

1 – Carência de Enfermeiros

1.1. – Aguiar da Beira

Em dezembro passado a falta de enfermeiros nesta unidade chegou a ser crítica, com apenas 1 profissional a assegurar os cuidados necessários à população.

Embora neste momento o problema se tenha diluído, continua a verificar-se uma falta crónica de enfermeiros neste concelho, não só porque ainda não houve substituição de uma colega em ausência prolongada, mas também porque não existe uma Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC) com profissionais a prestarem os cuidados antecipatórios que a população deste Concelho tanto precisa.

Neste sentido, os enfermeiros têm sentido muitas dificuldades em exercer o gozo de direitos elementares como o descanso ao fim-de-semana e dias de folga e usufruir de tempo com os filhos e a família.

Para além disso, os utentes têm visto o acesso aos cuidados de enfermagem diminuído e algumas das suas necessidades em cuidados por suprir.

 

1.2. – Unidades de Cuidados na Comunidade (UCC)

  • Inexistência de UCC em alguns Concelhos

Existem ainda três concelhos neste ACES que não possuem unidades deste cariz: Aguiar da Beira, Oliveira de Frades e Vila Nova de Paiva.

Do nosso ponto de vista, a solução apresentada pelo Diretor Executivo, de estender a ação de outras UCC vizinhas a esses concelhos, é apenas uma medida plástica que “destapa de um lado para tapar no outro”.

  • Falta de enfermeiros nas UCC

A grande maioria destas unidades sofre de um problema crónico de falta de enfermeiros.

Mantêm o incompreensível argumento jurídico de que um Contrato Individual de Trabalho (CIT) não é um vínculo de emprego público e que, por essa razão, a cedência por interesse público não poderá nunca redundar em consolidação. Permanece assim a sombra da precariedade e da instabilidade que impede o necessário e natural desenvolvimento de uma unidade que incluí 5 enfermeiros a CIT cedidos pelo Centro Hospitalar Tondela-Viseu (CHTV).

A falta de recursos e o desprezo de cuidados adensa-se ainda mais se tomarmos em consideração as necessidades em cuidados em enfermagem especializados, nomeadamente em Reabilitação, Saúde Mental e Saúde Materna e Obstétrica.

 

2 – Falta de recursos materiais

A falta de viaturas, a degradação do parque existente e a sua inadaptabilidade para o serviço que prestam são os problemas que mais preocupam os enfermeiros.

Nas poucas unidades onde existem viaturas, algumas são tão antigas que já não existem peças que possam ser usadas na sua reparação. Não há manutenção, não se atenta na segurança e prolonga-se a sua vida ou dos seus componentes muito para além do recomendável (como por exemplo os pneumáticos).

A falta de viaturas obriga a que se recorra constantemente ao táxi, o que, para além de aumentar exponencial e irracionalmente a despesa, coloca em risco a saúde pública, pois estas viaturas não estão preparadas para transportar resíduos hospitalares.

Expomos a desilusão dos enfermeiros que aguardam que o Ministro da Saúde cumpra e envie as seis viaturas prometidas a este Agrupamento em 2016.

 

3 – Falta de manutenção de equipamentos e infraestruturas

Estes profissionais estão cansados de ver as instalações deteriorarem-se sem que se estabeleça um plano objetivo e concreto de reparação e manutenção. Os exemplos que demonstram esta alarmante realidade são imensos e vão-se somando todos os anos.

O Centro de Saúde de Mangualde é um verdadeiro paradigma. O deficiente funcionamento do equipamento de aquecimento de água que se manteve por anos, pese embora os inúmeros alertas dos profissionais, propiciou o desenvolvimento da bactéria Legionella Pneumophilla, colocando em risco os funcionários e os utentes.

Para além disso, chove neste serviço, não há equipamento de mobiliário suficiente, há infiltrações em muitos pontos do edifício, o ginásio de reabilitação não é climatizado no verão, o monitor-desfibrilhador carece de manutenção, as paredes estão degradadas, o quadro de distribuição elétrico não suporta variações mínimas de tensão elétrica, o equipamento de radiologia tem mais de 50 anos, etc.

No Campo de Caramulo os problemas são semelhantes. A infiltração, quando chove, obriga a que se encerre o serviço e a que se interrompa a prestação de cuidados.

Em Tondela, o espaço do edifício é exíguo para o volume de trabalho que se desenvolve e para o número de profissionais que ali prestam cuidados.

No Sátão, as paredes estão de tal forma degradadas e a infiltração é de tal ordem que crescem cogumelos nas instalações.

Em Nelas as enfermeiras especialistas em Enfermagem de Reabilitação, por não terem um espaço próprio onde possam desenvolver os cuidados aos doentes dependentes, são obrigadas a prestarem esses cuidados numa sala de reuniões sem as condições mínimas exigidas.

O material de consumo clínico da UCC deste concelho tem que ser armazenado num corredor de passagem.