24 Setembro, 2014
A Greve dos Enfermeiros na defesa do SNS, da dignificação da profissão e dos cidadãos.

A propósito da greve dos enfermeiros, cuja informação abriu os telejornais, ouvi o Sr. Ministro da Saúde falar em banalização das greves afirmando que “a saúde é uma coisa muito séria e quem a paga são os contribuintes”.

Pois bem perante estas afirmações importa perguntar-nos quem banaliza e o que está a ser banalizado.

Importa referir que ao ouvir aquelas afirmações senti uma revolta pela forma displicente como é entendido o recurso à greve por quem tem a responsabilidade máxima de garantir, o que o SNS oferece e pode vir a oferecer aos cidadãos, através dos seus profissionais, entre estes os enfermeiros.

De facto, quem se pronuncia desta forma é porque não entende o que significa a tomada de decisão de convocar a greve e de a realizar.

Para os enfermeiros esta decisão é sempre acompanhada de angústia e de grande responsabilidade para com aqueles que lhes confiam os cuidados e, sendo a greve o último recurso, é bom termos consciência, colectiva, que a exaustão a que os enfermeiros portugueses estão hoje sujeitos só acontece porque estão a colmatar, diariamente, as carências existentes e a lutar contra a desmotivação para garantir os cuidados de enfermagem aos cidadãos que deles necessitam.

E, posto isto, questiona-se quem banaliza e o que banaliza. Assistimos, tal como afirmou o Sr. Presidente da Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros, que entre as palavras e os actos desde 2012 há uma grande distância.

Ou seja, sistematicamente o Ministro anuncia que vai haver soluções mas elas teimam em tardar. A sangria de enfermeiros para outros países, onde são reconhecidos e valorizados deixa mais pobre, o Portugal que investiu na sua formação. A consequência é a contínua degradação das condições de trabalho, impedindo a garantia da segurança dos cuidados e afectando os cidadãos e os profissionais.

Banalizando as promessas e não as cumprindo torna-se assim o Sr. Ministro e o Governo os principais responsáveis pela deterioração das condições de prestação de cuidados no SNS. São também responsáveis pela progressiva incapacidade do SNS de responder às necessidades em cuidados de saúde dos cidadãos, ao contrário do que os profissionais, nomeadamente os enfermeiros, demonstram nas razões que suportam esta greve.

Sabemos que uma greve em saúde implica sempre consequências para os cidadãos

mas a manutenção da situação existente tem consequências diárias e por isso imediatas no acesso, na qualidade e na segurança dos cuidados.

Mas, mais grave, a manutenção da situação existente e a degradação a que temos vindo a assistir nos últimos anos, tem consequências a longo prazo que só serão identificadas, provavelmente, na próxima geração.

É por tudo isto que os enfermeiros, responsavelmente, dizem BASTA, exercendo o seu direito à Greve!

É, também, por tudo isto que me orgulho de ser enfermeira e estou solidária com a GREVE dos colegas!

Augusta de Sousa, Enfermeira Especialista (Bastonária da Ordem dos Enfermeiros em anteriores mandatos).