21 Abril, 2023
Enf.º Rúben Fidalgo: “Não são só os cuidados diretos de enfermagem ou médicos. Estamos a falar de cuidados necessários de água potável, de apoio psicológico. As nossas equipas são multidisciplinares”

Entrevista do Enf.º Rúben Fidalgo na rubrica “Enfermeiros com Voz” do número 121 da revista “Enfermagem em Foco”.

 

Pode falar-nos um pouco sobre o seu histórico, no contexto da participação em missões humanitárias internacionais?

Sou enfermeiro desde 2009, em cuidados intensivos, no Centro Hospitalar de Leiria, e sou, desde os meus 18 anos, voluntário da Cruz Vermelha Portuguesa. A minha primeira missão foi no âmbito da AMI, que tinha um programa de enfermagem em que os estudantes de enfermagem, no último ano, se podiam candidatar e eu, logo em 2009, quando terminei, ingressei nesse projeto da AMI, em Cabo Verde, e fiz a minha missão na Ilha do Fogo. Essa missão que tinha dois carácteres, um caráter formativo e um de suporte da urgência da Ilha do fogo. 

Depois disso, em 2019, houve o ciclone Idai, em Moçambique e, no âmbito da cooperação internacional aos PALOP, o Senhor Presidente da República, à data o Professor Marcelo Rebelo de Sousa, decidiu fazer uma missão humanitária em parceria com a Cruz Vermelha Portuguesa, para assegurar cuidados de emergência. Começou no dia 27 de março e durou até ao dia 30 de abril. Foi uma missão que, inicialmente, foi de emergência e se transformou depois também numa missão de formação porque durou, com várias rotações, até agosto desse ano, 2019. Eu, apesar de ter estado no local como enfermeiro a prestar cuidados, posteriormente, e porque já estava há muitos anos na Cruz Vermelha, fiquei também responsável, à distância, por garantir a reestruturação e requalificação do espaço do Centro de Saúde Macurungo, que foi onde ficámos, na Beira, e pela compra de equipamentos e de gestão porque deixámos um edifício novo, construído e com todos os equipamentos necessários para a continuidade dos cuidados.

Além desta missão, em 2020, no âmbito da covid-19, em parceria com o Ministério da Administração Interna, e num programa de cooperação aos países PALOP e Timor Leste, a Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos – da qual eu também sou membro dirigente – encetou um conjunto de missões nesses países, incluindo na Guiné-Bissau, onde já fui duas vezes. 

É uma missão que tem caráter formativo e de apoio à estruturação de suporte de um circuito de doente crítico e, mais recentemente, em outubro, regressei a Moçambique, ainda ao abrigo deste acordo de cooperação. Comecei em Moçambique no Hospital Central de Maputo. Nestas missões, que duram 3 anos, iremos lá de 3 em 3 meses, para fazer suporte, formação à distância e formação presencial e acompanhamento.

 

Diria que alguma destas missões teve um cariz mais relacionado com alterações climáticas?

Sim, a missão resultante do ciclone Idai, que resultou de alterações climáticas, genericamente falando, sendo um evento atmosférico isolado, mas que resulta de alterações climáticas prolongadas. 

 

Sente que esse tipo de missões tem necessidades mais específicas ou quando participa em missões humanitárias as necessidades e aquilo a que tem de responder é semelhante, a nível de emergência?

Não são semelhantes, há vários tipos de missões humanitárias, há missões humanitárias de cariz formativo, em que o nosso objetivo é formar pessoas, acompanhá-las, dar suporte, há missões que não são em contexto de catástrofe e há missões de emergência, em que vamos dar apoio em situações inóspitas, inusitadas, que levou a uma situação de emergência, seja em cuidados de saúde, seja em cuidados de higiene, cuidados familiares, psicológicos. 

Esta que fiz em Moçambique foi de cariz de emergência, porque resultou de um ciclone, em que foi necessário intervir para prestar cuidados de socorro emergentes, primeiros socorros e sobrevivência às pessoas que estavam numa situação precária. Até porque o ciclone foi domingo e nós chegámos uma 5.ª feira, fomos os primeiros a chegar e foi esse o nosso intuito, salvar. Se bem que a palavra salvar… Eu gosto mais da palavra cuidar, mas foi no sentido emergente de salvar pessoas e prestar cuidados de saúde emergentes, o que é uma dimensão gigantesca. Mas não estamos a falar só dos cuidados diretos de enfermagem ou médicos. Estamos a falar de cuidados necessários de água potável, de apoio psicológico. As nossas equipas normalmente são multidisciplinares, muito nesse sentido.

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